Tiago, também conhecido como Tiago Maior, ou Tiago - filho de Zebedeu, é citado na Bíblia como um apóstolo de Jesus. Pelo que a Bíblia relata, Tiago e seu irmão João (o evangelista) eram pescadores. Foram encontrados por Jesus em um barco, no mar da Galiléia, consertando redes. Jesus os chamou para serem seus discípulos e eles aceitaram tão logo presenciaram um milagre realizado na sua frente (Jesus fala para que joguem as redes ao mar e elas voltam repletas de peixes). Tiago é considerado santo pelas igrejas cristãs Anglicana, Católica Romana, Luterana e Ortodoxa, ainda que existam diferenças teóricas no conceito de santidade aceitos por essas igrejas. O nome Santiago é uma derivação hispânica desse título, ou seja, vem de San Tiago (São Tiago).
Os evangelhos contam que Tiago era filho de Zebedeu (Mt 4,21) e Salomé (Mc 15,40 e Mt 27,55-56). É possível deduzir a partir de Jo 19,25 comparado com Mc 15,40 e Mt 27,55-56 que Salomé seria irmã ou prima de Maria, mãe de Jesus. Isso faz de Tiago primos de Jesus. Em virtude do ímpeto explosivo seu e de seu irmão, Tiago e João são apelidados por Jesus de "Filhos do Trovão" (Mc 3,17 e Lc 9,51-56).
Entre os fatos que a Bíblia conta sobre Tiago, fica a impressão que ele fazia parte de um círculo muito próximo de Jesus. Esteve presente em momentos chave da vida de Cristo, normalmente acompanhado de seu irmão João e de Simão Pedro. São esses momentos a Ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37), a Transfiguração no Monte Tabor (Mt 17,1-8, Mc 9,2-8 e Lc 9,28-36) e a agonia no Jardim das Oliveiras (Mt 26,36-46 e Mc 14,32-42).
Também chama a atenção a narrativa do momento em que Tiago e João se indispõem com os demais apóstolos. Salomé, mãe dos dois apóstolos, sugere a Jesus que seus filhos fiquem a direita e à esquerda do mestre na sua glória. Em resposta Jesus sugere que eles não sabem o que pedem e que iriam "beber o mesmo cálice" que Ele iria beber (Mt 20,20-23 e Mc 10,35-40), o que seria uma alusão à perseguição que sofreriam por parte das autoridades da época e que resultou, entre outros fatos, no martírio de Tiago. Aliás, esse é o único apóstolo cujo martírio é citado na Bíblia (At 12,1-2). Tiago foi o primeiro dos apóstolos a ser martirizado sob as ordens do rei Herodes Agripa I. Acredita-se que o fato correu no ano 44 da Era Cristã.
Após a passagem do livro dos Atos dos Apóstolos, a Bíblia não volta a falar em Tiago, filho de Zebedeu (a Epístola de Tiago não é atribuída a esse apóstolo, mas a Tiago, filho de Alfeu, ou a um autor do fim do séc I ou início do séc. II). O que se conta da vida de Tiago Maior entre o Pentecostes e seu martírio é controverso.
Conta-se que, após Pentecostes, Tiago, seguindo o mandado de Cristo "ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15), teria partido para a Península Ibérica e feito sua pregação na região. As fontes desse fato são tardias e controversas. Até o início do séc. VI não havia em toda a literatura eclesiástica nenhuma referência a uma passagem de Tiago pela atual Espanha. Apenas no fim do séc. VI, a versão latina do Breviarium dos Apostolorum cita que "Tiago, filho de Zebedeu,... pregou na Espanha e terras ocidentais". Também o Beato Liébana, em um poema chamado Apocalipse, de 785, narra a evangelização realizada por Tiago na Península Ibérica. Em virtude dessa pregação, que teria sido mal sucedida, Tiago teria manifestado vontade de ter seu corpo sepultado na região ibérica.
Tal fato justificaria que após o martírio, seus discípulos teriam recolhido as parte de seu corpo (retalhado por ordens de Herodes para evitar que seguidores prestassem algum tipo de culto). Os restos mortais teriam sido levados à região da Galícia (onde fica Santiago de Compostela). Ainda que toda a tradição em torno da peregrinação a Santiago de Compostela se dê pelo suposto túmulo de São Tiago encontrado pelo eremita Pelaio, alguns estudiosos, mesmo dentro da Igreja Católica, defendem que esses fatos não passam de lendas.
Enzo Lodi, ao resumir a história de São Tiago em Os Santos do Calendário Romano (I santi del calendario romano, Edizioni San Paolo, 1992) afirma que "as fontes tardias, depois do século VII (em Isidoro de Sevilha), acerca de uma pretensa evangelização na Espanha, não foram confirmadas pela descoberta de suas relíuias no século IX (830), pelo bispo Teodomiro da iria, num sepulcro dos tempos romanos (na Galícia); tanto mais que Vanâncio Fortunato, no século VI, atesta que seu corpo se encontrava em Jerusalém".
Lenda ou verdade, é a narração dos acontecimentos que se derão entre a ressurreição de Jesus e o suposto sepultamento do apóstolo Tiago Maior que tem movido, desde o século IX, centenas de milhares de fiéis à viajarem a Santiago de Compostela. Também moveu reis e imperadores à disputarem a região moldando a história da Península Ibérica e da Espanha em particular.
PS: Este não texto é um trabalho de investigação histórica, tão pouco tenta comprovar alguma verdade que eu acredite. Trata-se apenas de um resumo de diversas narrativas, muitas vezes contraditórias, encontradas em diversas fontes impressas e na internet. O único trabalho que tive foi de confrontar minimamente as fontes para tentar construir uma unidade no texto e despertar a curiosidade dos leitores. Se alcancei esse objetivo, já estou satisfeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, colaboração ou pergunta.