domingo, 5 de abril de 2015

3° dia - Rubiães a Tui (Espanha)

Saímos do albergue de São Pedro de Rubiães às 7h50, com 10°C de temperatura, sem vento, céu limpo e sentindo mais frio. Sabíamos que os trechos mais preocupantes, em função da distância e da altitude, já haviam ficado para trás. Se por um lado havia menos casas ao redor, por outro, a quantidade de peregrinos havia aumentado. No primeiro dia, só encontramos uma peregrina entre Braga e Ponte de Lima. No segundo, encontramos pelo menos 20 peregrinos.
De Rubiães a Valença do Minho e Tui, além de uma quantidade semelhante de peregrinos, tivemos a companhia de fogos de artifício por todo o percurso, em comemoração pela Páscoa.
Saímos do albergue por um rodovia, mas logo fizemos uma curva em "U" e pegamos um caminho calçado com pedras. Ficamos uns 2 km entre pequena propriedades rurais sempre com som de galos, das águas de rios e das águas que corriam em canais de irrigação.

Pouco antes do km 2, há uma curta mas forte subida. Em seguida, tomamos uma rodovia, e fomos alternando trechos de estradas que correm paralelas ela, ora em asfalto, ora em pedras, sempre com pouco movimento e subindo, de forma suave, mas constante. Os casacos não permaneceram mais que 4km, mesmo com a temperatura permanecendo em 10°C. Exatamente a essa altura há uma fonte, quase em frente a uma capela. Há um bar a 600m dali. É bom abastecer aqui, pois virão 4 km sem serviços.
Último bar antes de um longo trecho sem serviços


Em frente ao bar, há uma igreja que deve ser contornada (quase não vimos a seta). Daí, começamos a descer. Começa uma trilha no meio da mata e um caminho de pedras grandes, que, segundo dizem os guias, estão ali desde a época do domínio romano na península ibérica. Há riachos atravessando a trilha, pequenos trechos por asfalto e pouquíssimos trechos de subida. Pouco antes do km 8, há uma longa decida no asfalto (que deve ser a alegria dos ciclistas). Depois, o terreno fica mais plano. Pouco antes do km 9 fizemos um desvio de 150m para um lanche e uma pausa num restaurante. Lá também é servido menu do peregrino.




Início de uma longa decida











Restaurante a 150 m da trilha.
Voltamos para a trilha e, aos 12km, um susto: numa decida cheia de pedras soltas, meu pé esquerdo correu sobre uma delas e senti uma dor aguda no lado interno do pé esquerdo. Primeiro, imaginei que seria uma torção. Mas a dor era muito intensa e cheguei a pensar que era uma fratura. Temi pela continuidade da viagem. Paramos, tirei a bota, tentei alongar o pé mas a dor aguda permanecia ao levantar a ponta do pé. Com um minuto parado, a dor diminuiu um pouco e imaginei que apertando um pouco mais a bota conseguiria caminhar. Feito isso, a dor diminuiu e comecei a apoiar o pé, caminhar bem devagar, um pouco mais rápido... em cinquenta metros já não doía mais. Aí foi só reconquistar a confiança e voltar ao ritmo normal. Ao chegar no albergue, descobri que outro peregrino, um holandês, teve problema semelhante. Decidas semelhantes aconteceram umas duas ou três vezes ao longo desse dia. Dessas vezes, fui com menos sede ao pote.




As decidas tornaram-se menos íngremes ao chegar ao lado de uma igrejinha e entramos em uma zona urbana que parece ser a periferia de Valença do Minho, última cidade portuguesa no caminho para Santiago de Compostela. Continuamos seguindo as setas até passarmos sob uma linha de trem, já na entrada de Valença. A partir de então, passei a seguir as coordenadas de GPS sugeridas no site Camino Torres. A dica deles é transitar por algumas ruas diferentes das indicadas pelas setas, percorrendo uma distância parecida com a tradicional, mas passando por monumentos locais como uma fortaleza, admirando ruelas e belas vistas do rio Minho. Valeu a dica. Valença do Minho é realmente uma cidade que vale a pena ser visitada.
Entrada da região central de Valença do Minho, próximo à estação rodoviária







O Ponte Internacional, sobre o rio Minho, marca a fronteira de Portugal com a Espanha
Entrada da Ponte Internacional
Entrada de Tui
Em Tui encontramos o primeiro marco oficial do Caminho de Santiago. Indicava pouco mais de 115 km para nosso destino.
O ponto de chegada naquele dia, a Catedral, estava lá no alto
Tomando a Ponte Internacional, deixamos Portugal e entramos na Espanha. Mais precisamente na região da Galícia. Do outro lado da ponte está Tui. Seu estilo de arquitetura é bem diferente e mais rústico do que o que vimos em Valença. A sinalização, que inicialmente parece que será farta, nos fez ficar perdidos por duas vezes em pouco menos de 2 km. A subida para a Catedral é quase um labirinto. Houve um momento que tínhamos certeza de ter entrado em uma rua sem saída. Mas, a menos dois metros do que seria o seu fim, vimos a passagem e a sinalização. Comecei a olhar mais para o GPS que para as setas até que chegamos à Catedral de Tui.

O albergue fica atrás da Catedral, mas não encontramos nenhuma indicação disso. Íamos recorrer novamente ao GPS quando um cidadão nos perguntou, da janela, se procurávamos o albergue e nos indicou a direção. Foram 6 horas e 3 minutos de caminhada, percorrendo 22,34 km.

Entramos no albergue, às 13h38 no horário português, 14h38 no horário espanhol. Tomamos um banho e saímos para (tentar) comer. É só entrar na Espanha que começamos a encontrar dificuldades com os horários dos restaurantes. Já era mais de 15h e quase todos os restaurantes estavam fechados, mesmo os que serviam menu peregrino.


O albergue de Tui é quase tão bom quanto os demais. Quase tão bem cuidado, uma cozinha quase tão boa e fomos quase tão bem recebidos. Não há utensílios na cozinha, nem eletricidade nas tomadas (!?!?), nem máquina de lavar (muito útil, mas, até então, não havíamos feito uso em nenhuma parada).
Já a cidade, eu evitei conhecer para não comprometer o pé. Mas confesso que Valença me pareceu muito mais agradável e bela.

Dica: quando estivemos nesse albergue, nenhuma tomada fornecia energia. Mas, conversando com o responsável pelo albergue, ele deixou utilizar uma tomada na caixa de energia, em frente à recepção. Eram só três tomadas.

Roteiro do dia no Sports Tracker
Arquivos para GPS utilizados na caminhada nos formatos GPX e KML (fonte: Camino Torres).

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